quarta-feira, 23 de junho de 2010

A um poeta

Tu, que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno,

Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno,
Afuguentou as larvas tumulares…
Para surgir do seio desses mares,
Um mundo novo espera só um aceno…

Escuta! é a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! são canções…
Mas de guerra… e são vozes de rebate!

Ergue-te pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!

Antero de Quental

Destino

Quem disse à estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta – “Floresce!” -
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?

Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
O seu mel há-de ir pedir?

Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem…
Ai! não mo disse ninguém.
Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino
Vim cumprir o meu destino…
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.

Almeida Garrett

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O Jardim e a Noite

Atravessei o jardim solitário e sem lua,
Correndo ao vento pelos caminhos fora,
Para tentar como outrora
Unir a minha alma à tua,
Ó grande noite solitária e sonhadora.

Entre os canteiros cercados de buxo,
Sorri à sombra tremendo de medo.
De joelhos na terra abri o repuxo,
E os meus gestos dessa encantação,
Que devia acordar do seu inquieto sono
A terra negra canteiros
E os meus sonhos sepultados
Vivos e inteiros.

Mas sob o peso dos narcisos floridos
Calou-se a terra,
E sob o peso dos frutos ressequidos
Do presente,
Calaram-se os meus sonhos perdidos.

Entre os canteiros cercados de buxo,
Enquanto subia e caía a água do repuxo,
Murmurei as palavras em que outrora
Para mim sempre existia
O gesto dum impulso.

Palavras que eu despi da sua literatura,
Para lhes dar a sua forma primitiva e pura,
De fórmulas de magia.

Docemente a sonhar entra a folhagem
A noite solitária e pura
Continuou distante e inatingível
Sem me deixar penetrar no seu segredo
E eu senti quebrar-se, cair desfeita,
A minha ânsia carregada de impossível,
Contra a sua harmonia perfeita.

Tomei nas minhas mãos a sombra escura
E embalei o silêncio nos meus ombros.
Tudo em minha volta estava vivo
Mas nada pôde acordar dos seus escombros
O meu grande êxtase perdido.

Só o vento passou e quente
E à sua volta todo o jardim cantou
E a água do tanque tremendo
Se maravilhou
Em círculos, longamente.

Sophia de Mello Breyner Andresen, “Cem poemas de Sophia”

As palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade

Os Argonautas

o barco, meu coração não aguenta
tanta tormenta
alegria, meu coração não contenta
o dia, o marco, meu coração
o porto, não
navegar é preciso
viver não é preciso
o barco, noite no teu tão bonito
sorriso solto perdido
horizonte, madrugada
o riso, o arco, da madrugada
o porto, nada
navegar é preciso
viver não é preciso
o barco, o automóvel brilhante
o trilho solto, o barulho
do meu dente em tua veia
o sangue, o charco, barulho lento
o porto silêncio


Caetano Veloso

O poder da palavra

A palavra não cria o homem, é o homem que cria a palavra.

A palavra não constrói mundos, ajuda-nos apenas a compreendê-los.

A palavra capacita enquanto a utilidade se faz na individualidade de cada um.

A palavra não cria asas, é o homem que a transporta em seus pensamentos.

A palavra define, modifica, estabelece uma ordem sobre as coisas.

A palavra tem o poder de mudança, mas a iniciativa é do próprio homem.

A palavra agrega conhecimentos para a nossa formação pessoal.

A palavra é uma chave para os mistérios da vida.

A palavra insere ou exclui.

A palavra fere mas também cura.

A palavra ... a palavra ... é a pura e simples palavra.


Por: Ericson Tavares
Os animais foram imperfeitos,
compridos de rabo, tristes de cabeça.
Pouco a pouco se foram compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça vôo.
O gato,
só o gato apareceu completo e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.

O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro.

Não há unidade como ele,
não tem a lua nem a flor
tal contextura:
é uma coisa
só como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno
firme e sutil é como
a linha da proa de uma nave.
Os seus olhos amarelos
deixaram uma só ranhura
para jogar as moedas da noite .

Oh pequeno imperador sem orbe,
conquistador sem pátria,
mínimo tigre de salão, nupcial sultão do céu
das telhas eróticas,
o vento do amor
na intempérie reclamas
quando passas e pousas
quatro pés delicados no solo,
cheirando, desconfiando de todo o terrestre,
porque tudo é imundo
para o imaculado pé do gato.

Oh fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta dos quartos,
insígnia de um desaparecido veludo,
certamente não há
enigma na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti e pertences
ao habitante menos misterioso
talvez todos acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios
de gato, companheiros, colegas,
discípulos ou amigos do seu gato.

Eu não.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço o gato.
Tudo sei, a vida e o seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica
o gineceu com os seus extravios,
o pôr e o menos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
a casca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou na sua indiferença,
os seus olhos têm números de ouro.


Pablo Neruda

sábado, 19 de junho de 2010

Sísifo

Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.


Miguel Torga, Diário XIII
Nada me prende, a nada me ligo, a nada pertenço.
Todas as sensações me tomam e nenhuma fica.
Sou mais variada que uma multidão de acaso.
Sou mais diversa que o universo espontâneo.
Todas as épocas me pertencem um momento,
Todas as almas um momento tiveram seu lugar em mim.
Flluída de intuições, rio de supor - mas,
Sempre ondas sucessivas,
Sempre o mar - agora desconhecendo-se.
Sempre separando-se de mim, indefinidamente."


FERNANDO PESSOA

Ápice

O raio do sol da tarde
Que uma janela perdida
Refletiu
Num instante indiferente —
Arde,
Numa lembrança esvaída,
À minha memória de hoje
Subitamente…

Seu efêmero arrepio
Ziguezagueia, ondula, foge,
Pela minha retentiva…
— E não poder adivinhar
Porque mistério se me evoca
Esta idéia fugitiva,
Tão débil que mal me toca!…

-Ah, não sei porquê, mas certamente
Aquele raio cadente
Alguma coisa foi na minha sorte
Que a sua projeção atravessou…

Tanto segredo no destino de uma vida…

É como a idéia de Norte,
Preconcebida,
Que sempre me acompanhou…

Mário de Sá Carneiro

Quase

Um pouco mais de sol – eu era brasa,
Um pouco mais de azul – eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa…
Se ao menos eu permanecesse aquém…

Assombro ou paz? Em vão… Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho – ó dor! – quase vivido…

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim – quase a expansão…
Mas na minh’alma tudo se derrama…
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo … e tudo errou…
— Ai a dor de ser — quase, dor sem fim…
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou…

Momentos de alma que,desbaratei…
Templos aonde nunca pus um altar…
Rios que perdi sem os levar ao mar…
Ânsias que foram mas que não fixei…

Se me vagueio, encontro só indícios…
Ogivas para o sol — vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios…

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí…
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi…

Um pouco mais de sol — e fora brasa,
Um pouco mais de azul — e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa…
Se ao menos eu permanecesse aquém…

Mário de Sá Carneiro
"No palácio real de Teerã, no Irã, você pode ver um dos mais bonitos trabalhos em mosaico do mundo.

Os tetos e as paredes cintilam como diamantes com reflexos multifacetados. Originalmente, quando o palácio foi projetado, o arquiteto especificou enormes folhas de espelhos para as paredes. Quando o primeiro carregamento chegou de Paris, descobriram que os espelhos estavam todos quebrados. O empreiteiro mandou jogar tudo ao lixo e levou a triste notícia ao arquiteto.

Surpreendentemente, o arquiteto ordenou que todas as peças quebradas fossem recolhidas, quebradas em pedaços ainda menores e, então, coladas às paredes, transformando-se em um mosaico prateado e cintilante.

Quebrado para tornar-se belo!
É possível transformar cicatrizes em estrelas.
É possível ser melhor exatamente por ter se quebrado."

(Autor Desconhecido)

Em busca da verdade

A verdade pode-se encontrar sob multiplas facetas, poderá estar inserida em variados pontos de vista.

O que é a verdade?

O processo ou a conclusão?

Tenho a verdade como um senso, um processo lógico no desenrolar na composição da informação abordada. A verdade não pode ser contraditória, ilógica, a verdade tem que estar de acordo com a informação já levantada. A verdade é uma espécie de conclusão obtida pelo rebuscamento e manutenção de informações na chegada de uma conclusão, de um consenso sobre a questão levantada.

A busca da verdade é estar exposto ao erro, sujeito ao ridiculo pois a verdade é uma espécie de risco sustentada por nossas certezas.

Quem acredita na verdade acredita mais na informação, na conclusão subtraída da mesma, enquanto se é verdadeiro ou não isso será apenas uma consequência da conclusão obtida. A verdade não seria parte componente da informação, mas seria apenas uma classificação dessa mesma informação, um julgamento da mesma.

A verdade também pode estar oculta na ilusão. Para isso temos que nos aventurarmos na busca ao seu encontro, temos que buscar e rebuscar mais além das aparências e chegar a uma conclusão de sua totalidade, não ignorando os fatos históricos e todo o processo que desencadeou na sua conclusão. Pois essa é a verdade, digamos, "mais pura", aquela em que levamos em consideração toda uma ocorrência histórica que nos levou a mesma.

A ilusão pode ser verdadeira enquanto engano... pois estaria sujeita à mentira já que é uma milusão...

É interessante esse aspecto da verdade da ilusão, ou seja, que és em si mesma uma ilusão. A verdadeira ilusão torna-se-á uma mentira e deixará de ser verdadeira... Outro aspecto importante é a verdade que tem a mentira, a verdade da mentira é que ela é justamente uma mentira, uma informação ilógica, sem fundamentos, sem alguma correspondência lógica.

A verdade pode ser extraída de tudo, até mesmo de uma mentira!

A verdade é verdadeira por si mesma. Se a verdade prevalece é porque o bom senso domina. A verdade forma opinião, assegura-nos à vida, ela é o sustentáculo da sociedade, das relações pessoais, de nossas certezas.

A verdade também pode se manifestar oculta, onde teremos que utilizar da simbologia, da interpretação subjetiva, metafísica, para obtermos o seu encontro. A verdade oculta na verdade, ainda não existe, ela é fruto do rebuscamento da mente na correspondência de suas interrogações.


Por: Ericson Tavares

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Qualquer Música

Qualquer música, ah, qualquer,
Logo que me tire da alma
Esta incerteza que quer
Qualquer impossível calma!

Qualquer música – guitarra,
Viola, harmônio, realejo…
Um canto que se desgarra…
Um sonho em que nada vejo…

Qualquer coisa que não vida!
Jota, fado, a confusão
Da última dança vivida…
Que eu não sinta o coração!

Fernando Pessoa

Nada que sou me interessa

NADA QUE SOU me interessa.
Se existe em meu coração
Qualquer que tem pressa
Terá pressa em vão.

Nada que sou me pertence.
Se existo em que me conheço
Qualquer cousa que me vence
Depressa a esqueço.

Nada que sou eu serei.
Sonho, e só existe em meu ser,
Um sonho do que terei.
Só que o não hei de ter.

Fernando Pessoa

AUTOR DA VIDA

Vai,
deixa de tristeza e deixa o sonho te levantar, acredite que é possível ainda hoje uma virada, acredite que tudo foi apenas um engano,
mantenha a rota do seu barco da vida, não desista novamente, as pedras são apenas restos que a chuva trouxe...


Amar, viver, sonhar, acreditar, lutar e até o chorar, são fases que compõem o grande quadro chamado vida, onde a tela
é a sua história, as tintas são as pessoas que passam por ela, mas, o pintor,
o responsável pela obra será sempre você
Haja o que houver, aconteça o que acontecer, o pincel que mistura as cores, que dá forma ao que vai surgir na tela, que cria e apaga situações e imagens,
ainda está na sua mão
É você quem pode criar agora, uma estrada florida,
ou o caminho escuro das incertezas e dúvidas.
Já que você é o autor,
o pintor dessa tela chamada vida, comece pintando um sorriso, que é o sinal que representa a esperança,
a renovação, símbolo dos que não desistem nunca de ser feliz, e ser feliz exige criatividade, esforço e dedicação.
Se tudo deu errado até aqui,
passe tinta branca em toda a tela e recomece, hoje é o dia perfeito para uma nova pintura...

Paulo Roberto Gaefke

Porque do porque?

Imoral ou simplesmente moral?

Imparcial ou parcial com a própria imparcialidade?

Obseno ou incomum?

Profano ou sagrado? Pra quem?

Calado é o mesmo que vazio?

Estética... quem a compreende?

O inútil pode ser útil?

Triste ou gozado, quem sente sente o mesmo?

Essência ou fragrância?

Impudico ou prazer?

Sedentário ou simplesmente vive?

Todo necessário é útil ou todo útil é necessário?

Sonho ou imaginação?

Viver é estado?

Individualismo ou individualidade?

Sentido ou movimento?

Loucura e anormalidade são compreendidas?

Certeza ou fé, o que difere...?

Rico ou pobre, que critérios utilizamos para defini-los?

Verdade ou mentira, ponto de vista?

Forte ou fraco, capacidade?

Crescimento interno é percebido assim como o externo?

Quem existe vive?

Quem pensa se movimenta?

A idade de existência corresponde a idade da alma?

Sou ou estou?

Ser visto é ser compreendido? O que falta?

Quem sou eu, já chegaram a alguma conclusão?


Pois a dúvida às vezes é a melhor das respostas para a vida.


Por: Ericson Tavares

domingo, 13 de junho de 2010

Os sentimentos são como passaros

Os sentimentos são como passaros, que pousam na segurança do encontrar de um amparo para se fixar.
Eles voam quando a liberdade os chamam, e se fixam quando se encantam, num canto talvez harmonicamente, sentido... eles são o sentido para nossas necessidades intimas, eles alimentam o produto do seu amor, ainda pequeninos.
Os sentimentos se caracterizam com os passaros, com os gostos, com a experiência
que cada um imprime do mundo. São passaros talvez engaiolados a espera de serem libertos, ou o encontro da liberdade no mais profundo recondito do seu ser.


Por: Ericson Tavares
Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.

Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.

Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
- Vê que nem te digo - esperança!
- Vê que nem sequer sonho - amor!

Cecília Meireles

O amor antigo

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mais pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.


Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 10 de junho de 2010

OS DEGRAUS

Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...

Mário Quintana

Ah! Os Relógios

Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...

Mario Quintana
In: "A Cor do invisível"

domingo, 6 de junho de 2010

Eu

SOU LOUCO e tenho por memória
Uma longínqua e infiel lembrança
De qualquer dita transitória
Que sonhei ter quando criança.
Depois, malograda trajetória
Do meu destino sem esperança,
Perdi, na névoa da noite inglória,
O saber e o ousar da aliança.

Só guardo como um anel pobre
Que a todo herdeiro só faz rico
Um frio perdido que me cobre

Como um céu dossel de mendigo,
Na curva inútil em que fico
Da estrada certa que não sigo.

Fernando Pessoa
Poesias Inéditas

Sou o fantasma de um rei

Sou o fantasma de um rei
Que sem cessar percorre
As salas de um palácio abandonado...
Minha história não sei...
Longe em mim, fumo de eu pensá-la, morre
A ideia de que tive algum passado...

Eu não sei o que sou.
Não sei se sou o sonho
Que alguém do outro mundo esteja tendo...
Creio talvez que estou
Sendo um perfil casual de rei tristonho
Numa história que um deus está relendo...

Fernando Pessoa
Ó naus felizes ,que do mar vago
Volveis enfim ao silêncio do porto
Depois de tanto noturno mal
Meu coração é um morto lago,
E à margem triste do lago morto
Sonho um castelo medieval...

E nesse,onde sonha,castelo triste,
Nem sabe saber a,de mãos formosas
Sem gesto ou cor,triste castelã
Que um porto além rumoroso existe,
Donde as naus negras e silenciosas
Se partem quando é no mar manhã...

Nem sequer sabe que há o,onde sonha,
Catelo triste...Seu spírito monge
Para nada externo é perto e real...
E enquanto ela assim se esquece,tristonha,
Regressam,velas no mar ao longe,
As naus ao porto medieval...

Fernando Pessoa
Deixei atrás os erros do que fui,
Deixei atrás os erros do que quis
E que não pude haver porque a hora flui
E ninguém é exato nem feliz.

Tudo isso como o livro da viagem
Deixei nas circunstâncias do caminho,
No episódio que fui e na paragem,
No desvio que foi cada vizinho.

Deixei tudo isso, como quem se tapa
Por viajar como uma capa sua,
E a certa altura se desfaz da capa
E atira com a capa para a rua.

Ferndo Pessoa (Quando fui o outro) pg.35 Ed. Alfaguara

sábado, 5 de junho de 2010

Há um Sorriso que é de Amor
E há um Sorriso de Maldade,
E há um Sorriso de Sorrisos
Onde os dois Sorrisos têm parte.

E há uma Careta de Ódio
E há uma Careta de Desdém
E há uma Careta de Caretas
Que te esforças em vão pra esquecê-la bem

Pois ela fere o Coração no Cerne
E finca fundo na espinha Dorsal
E não um Sorriso que nunca tenha sido Sorrido
Mas só um Sorriso solitário

Que entre o Berço e o Túmulo
Somente uma vez se Sorri assim
Mas quando é Sorrido uma vez
Todas a Tristeza tem seu fim

William Blake

O Jardim do Amor

O Jardim do Amor fui visitar,
E vi então o que jamais notara:
Lá bem no meio estava uma Capela,
Onde eu no prado correra e brincara.

E os portões desta Capela não abriam,
E "Não farás" sobre a porta escrito estava;
E voltei-me então para o Jardim do Amor
Lá onde toda a doce flor se dava;

E os túmulos enchiam todo o campo,
E eram esteias funerárias as flores;
E Padres de preto, em seu passeio secreto,
Atando com pavores minhas alegrias & amores.

William Blake, in "Canções da Experiência"
Tradução de Hélio Osvaldo Alves

Augúrios de inocência

Ver um mundo num grão de areia,
E um céu numa flor do campo,
Capturar o infinito na palma da mão
E a eternidade numa hora

Um tordo rubro engaiolado
deixa o céu inteiro irado
Um cão com dono e esfaimado
prediz a ruína do estado
Ao grito da lebre caçada
da mente, uma fibra é arrancada
Ferida na asa a cotovia,
um querubim, seu canto silencia....
....Toda noite e toda manhã linda,
uns nascem para o doce gozo ainda
outros nascem numa noite infinda
Passamos na mentira a acreditar
qdo não vemos através do olhar
que uma noite nos traz e outra deduz,
quando a alma dorme mergulhada em luz
Deus aparece e Deus é luz amada
para aqueles que na noite têm morada
E na forma humana se anuncia,
para aqueles que vivem nas regiões do dia.

William Blake

Existe regras para ser humano?

Tudo bem que existe as leis que regem uma sociedade, mais elas são direcionadas justamente para a vida em SOCIEDADE, para a formação de cidadãos. Mas será que existe regra para ser humano? Existe algum manual específico para a formação de seres humanos? Ou eles simplesmente são o que são independente da cultura que adotem?

O que é ser humano?

Deixamos de ser humanos se temos um padrão próprio de vida específico? Levando em conta que o ato de pensar é uma característica comum nos seres humanos, e que o pensar pode levar a divergência, a concordância, a criação ou eliminação. O pensar, que nos torna humanos, poderá possibilitar a cada ser um padrão de vida de acordo com suas perspectivas de mundo e o ambiente a qual faz parte.

Poderiamos afirmar que a condição humana é garantida pela existência do ser. É através dela que procuramos meios para estabilizar nossas condições dentro da cultura a qual faz parte, dos seus valores, buscar o equilibrio de uma vida para suas necessidades.

Teria o homem regras naturais paara se viver ou seria apenas uma consequencência de uma determinada experiência vivida que criaria o senso de regra sobre essa mesma experiência?

Ser humano é um estado, condição ou identidade?

Creio que o que nos faz ser humanos é estar vivo, ser como somos, como nos percebemos e termos consciência de quem somos.

A vida em si não exige regras da natureza, dos animais, do homem individualmente, mas a partir do momento que ele assume o seu compromisso social e interage dentro de um sistema, sociedade, ela passa a seguir as normas da mesma, não por ser uma imposição, mas para facilitar sua vida e a da própria sociedade.

Para sermos humanos basta que assim nos compreendamos e vivamos para isso.


Por: Ericson Tavares

sexta-feira, 4 de junho de 2010

A mudança existe?

O mundo não se resume a fatos isolados sem uma correspondência lógica.

O mundo está em constante transformação ou seria a nossa maneira em como o percebemos, supondo que os fenômenos sejam todos "naturais" já que fazem parte de uma mesma realidade conjunta, poderia haver mudança na natureza das coisas ou não? A mudança é externa ou interna aos nossos sentidos?

Se todo fenômeno dentro da realidade existente é natural então existe a possibilidade de que nada no caso mude, de que essa "mudança" a qual percebemos seja o estado natural imutável do universo. Que a mudança estaria presente apenas na nossa visão limitada de mundo e não de fato como realmente é? O estado de mudança que observamos não seria nada mais que a não-mudança, um estado estabilizado do universo visto por um ótica fora do tempo e espaço deste universo presente?

As mudanças acontecem no campo da física, e a mente se encarrega de compreendê-las e estabelecer valores sobre o que se percebe. A mudança da física implica na mudança da mente, pois a primeira condiciona o entendimento da segunda.

A vida não é um jogo na qual se possa molda-la ao bel prazer. Cada mudança implica em uma observação diferente, em uma concepção de mundo diferente. A mudança começa na consciência de cada um e não de uma unidade para todos. Nós só podemos compreender as mudanças que se passam nos nossos limites de percepção, daquilo que tomamos consciência, nas nossas próprias experiências reais, por isso querer mudar o mundo é uma idéia absurda pois não mudamos o que não compreendemos, pois como poderiamos mudar aquilo que desconheço? Como poderia mudar de opinião se não tenho uma opinião de fato sobre algo devido não conhecê-lo? O que causará apenas a concepção sobre esse algo e não um sentido de mudança de fato.

A mudança seria de fato a lei da vida ou a lei dos homens? Do entendimento limitado da mente humana ou na natureza da própria natureza?

Uma homem não pode mudar um mundo, poderá mudar a si mesmo, direcionar sua mente, enquanto ao mundo ele sempre vai estar sendo como nos apresenta no presente, ele sempre é ou deixará de ser. A mudança no mesmo implica na mudança nos fenômenos e consequentemente na mudança, compreenção mental.

Não se pode mudar o mundo pois ele por si só modifica-se conforme compreendemos, transmuta-se, nós fazemos parte do mesmo e acompanhamos as variações nos fenômenos, somos partes dos próprios fenômenos, somos criaturas dentro de uma realidade específica (Terra) condicionados ao nosso estilo de vida, às nossas crenças, costumes, culturas etc...

No máximo mudamos nossa concepção sobre as coisas, mudamos nossos pensamentos apartir das experiências de cada um. Apenas assim, através da mudança mental de cada um é que poderemos mudar o mundo, na maneira em como ele nos apresenta ser.


Por: Ericson Tavares
Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer.

Clarice Lispector
“ Afasta sua mão que o ilude! Porque o caminho da tradição não é o caminho dos poucos escolhidos, mas o caminho de todos os homens! E o poder que você pensa que tem não vale nada, porque não é um poder que se divida com outros homens! Você devia ter recusado a espada, e se você tivesse feito isso ela lhe seria entregue, porque seu coração estava puro. Mas como eu temia, no momento sublime você escorregou e caiu. E por causa da sua avidez, terá que caminhar novamente em busca de sua espada. E por causa de sua soberba, terá que busca-la entre os homens simples. E por causa de seu fascínio pelos prodígios, terá que lutar muito para conseguir de novo aquilo que tão generosamente ia lhe sendo entregue.” – Paulo Coelho em Diário de um mago.

Blaise Pascal in Pensées

"Que quimera é, então, o homem!
Que novidade!
Que monstro, que caos, que contradição!
Juiz de todas as coisas,
verme imbecil da terra,
depositário da verdade,
poço de incerteza e erro;
o orgulho e o refugo do Universo!"

(Blaise Pascal in Pensées)

A Descoberta do Mundo

Se o meu mundo não fosse humano,
também haveria lugar para mim:
eu seria uma mancha difusa de instintos
doçuras e ferocidades, uma trêmula irradiação de paz e luta:
se o meu mundo não fosse humano eu me arranjaria sendo um bicho.
Por um instante então desprezo o lado humano da vida
e experimento a silenciosa alma da vida animal.
É bom, é verdadeiro, ela é a semente do que depois se torna humano.

Clarice Lispector

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Eu aprendi...

Eu aprendi...
...que ignorar os fatos não os altera;

Eu aprendi...
...que quando você planeja se nivelar com alguém, apenas esta permitindo que essa pessoa continue a magoar você;

Eu aprendi...
...que o AMOR, e não o TEMPO, é que cura todas as feridas;

Eu aprendi...
...que ninguém é perfeito até que você se apaixone por essa pessoa;

Eu aprendi...
...que a vida é dura, mas eu sou mais ainda;

Eu aprendi...
...que as oportunidades nunca são perdidas; alguém vai aproveitar as que você perdeu.

Eu aprendi...
...que quando o ancoradouro se torna amargo a felicidade vai aportar em outro lugar;

Eu aprendi...
...que não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito;

Eu aprendi...
...que todos querem viver no topo da montanha, mas toda felicidade e crescimento ocorre quando você esta escalando-a;

Eu aprendi...
...que quanto menos tempo tenho, mais coisas consigo fazer

William Shakespeare

Existe perfeição moral?

Procurar aquilo que faz bem, um estilo de vida fundamentado não é querer ser "o santo", nem pretender um estilo de vida inquestionavel, mas é ter valor próprio e conhecimento para buscar o melhor para si.

Onde está a perfeição na moral?

Conceituando, a perfeição sempre estará na percepção daquele que a percebe. Sendo que esta variará de individuo para individuo conforme o senso de belo de cada um. A perfeição estará essencialmente nos critérios que utilizamos para concebê-la. Geralmente o senso estético estará intimamente relacionado com aquilo que entendemos como perfeito. Perfeição no caso, seria uma visão limitada de mundo, uma visão congelada de uma imagem construída sobre determinado objeto.

Nada que é mutável é perfeito. Mas a concepção humana tem a capacidade de isolar certos padrões na formação daquilo que mais se assemelha com o seu senso de perfeito. O senso estético tanto poderá ser obtido pela concepção da qualidade/utilidade ou a aparência que um determinado objeto nos apresenta.

A perfeição moral implica em enquadrar-se em um padrão de comportamento que corresponda ao nosso senso estético e a visão de mundo individual. Sendo que a moral é relativamente perfeita pois se tratando de algo variante, em constante mudança temos apenas uma impressão de determinado tipo de comportamento na qual passará pelo nosso julgamento pessoal e assim ganhará a sua qualificação conforme nos apresenta.

A perfeição moral pode ser medida da mesma forma, tanto pela utilidade como pela aparência, sendo que de uma forma ou de outra ambas refletirão e influenciarão a nossa mente na maneira em como compreendemos o mundo.

Perfeição é mente condicionada a ela.

Cada um na sua individualidade busca aquilo que é essêncial para a construção moral, lógicamente que recorremos a busca do perfeito para o nosso estilo, para nossa cultura, para corresponder perfeitamente aos nossos valores, às nossas necessidades da vida.

Recorrer ao perfeito é recorrer ao útil, ao necessário, ao complemento perfeito não na visão externa mas na individualidade de cada um que pode senti-la nas frações de cada percepção.


Por: Ericson Tavares

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Dos Filhos

E uma mulher que carregava o filho nos braços disse: “Fala-nos dos filhos.”
E ele disse:
Vossos filhos não são vossos filhos.
São filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E, embora vivam convosco, a vós não pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Pois eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas; Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis faze-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois o arco dos quais vossos filhos, quais setas vivas, são arremessados.
O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com Sua força para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama também o arco, que permanece estável.

Kahlil Gibran

Preconceito

Um homem visitou um místico famoso,
porque queria saber como se livrar
de suas crenças e preconceitos.
Em vez de lhe responder, o místico
andou em direção à uma pilastra e a
abraçou, enquanto gritava:

- Socorro, salve-me desta pilastra!
Ela está me prendendo!
Salve-me desta pilastra!
O homem que fizera a pergunta,
pensou que o místico era maluco.
A gritaria atraiu um monte de gente.
Sem conseguir acreditar no que via,
o homem perguntou:

- Por que está fazendo isso?
Eu vim para lhe fazer uma pergunta importante.
- Pensei que fosse sábio, mas acho que é louco.
O senhor está segurando a
pilastra e pode soltá-la na hora que quiser.
Ela não o está prendendo.
O místico largou a pilastra e disse:
- Então já tem a resposta à sua pergunta.
Não são suas crenças e preconceitos que te seguram.
Você os agarra firmemente e não os solta.
Para se livrar deles, basta largá-los na hora que quiser....


Sabedoria Budista

terça-feira, 1 de junho de 2010

Considero saudável estar só na maior parte do tempo.
Estar acompanhado, mesmo pelos melhores, cedo se
torna enfadonho e dispersivo.
Adoro estar só.
Nunca encontrei um companheiro tão sociável
como a solidão. Estamos geralmente mais sós
quando viajamos com outros homens do que quando
permanecemos nos nossos aposentos.
Um homem quando pensa ou trabalha está sempre só,
deixai-o pois estar onde ele deseja.
A solidão não é medida pelas milhas de espaço
que separam um homem e os seus congéneres.

Henry David Thoreau, in 'Walden'

Respiração Holotrópica



A Respiração Holotrópica ™ é uma valiosa técnica de psicoterapia experiencial e auto-exploração profunda existente na Psicologia Transpessoal, embasada no potencial curativo e transformador dos estados ampliados de consciência. Foi criada por Stanislav Grof, um dos fundadores e principais teóricos da Psicologia Transpessoal, juntamente com sua esposa Christina Grof. Vem sendo utilizada desde 1976 ao redor do mundo com impactantes resultados terapêuticos e de desenvolvimento pessoal.

O método utilizado na Respiração Holotrópica ™ combina respiração mais rápida e profunda que a habitual, música evocativa, trabalho corporal e arte, permitindo que os participantes ampliem sua consciência e se conectem à sabedoria e à capacidade de cura próprias de seu corpo e psiquismo, instância psíquica esta que Grof chamou de curador interno.
Este estado incomum de consciência tem a surpreendente capacidade de selecionar e trazer à tona conteúdos de forte carga emocional e, portanto, de grande importância às nossas dinâmicas psíquicas. Podemos reviver ou nos conectar não somente com material biográfico (do nascimento até o momento presente), como se faz normalmente na psicoterapia tradicional, mas, também, ter acesso às memórias de nossa gestação e parto e ilimitado espectro dos fenômenos transpessoais.
O campo transpessoal compreende experiências onde não nos sentimos limitados pelo nosso ego, espaço ou tempo, e onde podemos conectar com os domínios míticos e arquetípicos, o inconsciente coletivo, o transcendente e o cosmos. Estas experiências transpessoais podem nos ajudar a desenvolver um senso de sentido e objetivo à nossa vida, ajudar a superar crises existenciais e despertar uma visão mais compassiva para conosco, pela humanidade e para com o planeta.

Fonte: http://holotropica.com.br/respiracao-holotropica/
“ Há um fluxo cósmico que cumpre um papel igualmente importante na formação dos universos, no sopro de vida e na consciência humana. Não se trata de forças independentes que atuam em nós e sim das energias universais que têm uma fonte comum, posto que é verdadeiro que o que existe embaixo é como o que existe no alto e o que existe no alto é como o que existe embaixo.” (Excerto da Tábua de Esmeralda, de Hermes Trismegisto)

À DESCOBERTA DO AMOR

Ensaia um sorriso
e oferece-o a quem não teve nenhum.
Agarra um raio de sol
e desprende-o onde houver noite.
Descobre uma nascente
e nela limpa quem vive na lama.
Toma uma lágrima
e pousa-a em quem nunca chorou.
Ganha coragem
e dá-a a quem não sabe lutar.
Inventa a vida
e conta-a a quem nada compreende.
Enche-te de esperança
e vive á sua luz.
Enriquece-te de bondade
e oferece-a a quem não sabe dar.
Vive com amor
e fá-lo conhecer ao Mundo.

Mahatma Gandhi

A verdade, onde ela está?

Onde estará a verdade?

No casebre do pobre ou na mansão do rico?

Na guerra fatídica ou na paz escondida?

Na chama acesa ou no clarão do luar?

No canto do pássaro ou no brilho do olhar?

Na imensidão dos mares ou nos ares e no ar?

Em um copo com álcool ou na luz de um altar?

Num sorriso vislumbre ou saudade sem timbre?

Na vontade acesa ou na covardia ativa?

Nos desejos sonhados ou na ilusão delirada?

Na noite perdida ou no presente descoberto?

No momento passado ou no amanhã que virá?

Para onde quer que vás suas verdades eternamente estarão onde estiver teu coração.


Por: Ericson Tavares

A vida como ela é

A vida como ela é implica na aceitação de uma realidade imposta por um fator determinante externo ao Eu.

Viver é aceitar suas condições para assim poder trabalhar na moldura daquilo que nos fortalece e estabiliza, mantendo-nos atarefados em uma missão. Estar vivo é um estado específico na qual variará conforme a experiência vivida.

O mundo na qual vivemos é um universo sensível e orgânico, está intimamente relacionado com a capacidade de adquirir, adicionar, acrescentar novas experiências, acumular novas informações, em adquirir, possibilitando o "estado de consciência de qualidade de vida".

Os seres humanos são relativamente comparáveis a computadores, acúmulo de dados, deterministicamente capacitados, desempenho, memória, partes componentes etc. O homem é um ser mítico por naturera, sua mítica vem do seu auto-entendimento, do tentar compreender a si mesmo, sua mente, o seu passado pré-histórico, tudo aquilo que foge, relativamente, da alçada empirica e adentra no campo subjetivo, metafísico.

O homem é um ser racional pensante, que através do ato de pensar ele cria razões sobre as coisas, classificando-as conforme as características daquilo que percebe.

É muito difícil conceber a vida como ela é, isso implicaria em retirarmos o "véu da ilusão" que envolve nossas faces, e aceitar os riscos que acalenta estar vivo, entender que o esforço físico e o sofrimento nada mais é do que estados voltados para a obtenção da satisfação e felicidade, segundo os intentos divinos é claro. No entanto para compreendermos a vida como ela é basta que recorramos a ela como ela nos apresenta, e dar o melhor de si como resposta a suas expectativas.

Viver sem o véu da ilusão é estar entregue aos seus afazeres, e doar-se ao seu trabalho, é produzir conscientemente aquilo a que é capacitado, como diria Amir Sater, "compreender a marcha e ir tocando em frente", e assim se faz a vida com todos os seus altos e baixos, mas sempre com sua lição a ensinar e na qual melhor se vive aquele que melhor compreende as sabedorias existentes, a sabedoria da existência, a sabedoria da vida.


Por: Ericson Tavares